quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA - TEA

O QUE CONHECEMOS SOBRE O TEMA

O autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), como atualmente é chamado, refere-se  a uma condição de saúde caracterizada por prejuízos em 3 importantes áreas do desenvolvimento humano: Habilidades sócioemocionais, atenção compartilhada e comunicação/linguagem. 
É fato que atualmente temos ouvido falar muito mais sobre o autismo, e parece que também mais pessoas vem sendo diagnosticadas, principalmente após a ultima  revisão da Classificação Internacional das Doenças e de Problemas Relacionados a saúde - CID 10, e o Manual de Diagnósticos dos Transtornos Mentais 5ª edição - (DSM-V), onde optou-se pelo termo TEA - Transtorno do Espectro Autista, que substitui os termos anteriormente utilizados como Transtornos Globais do Desenvolvimento-TGD e Transtornos Invasivos do Desenvolvimento-TID, este ultimo já havia ampliado o conceito de autismo para as seguintes condições: Autismo Infantil, Autismo Atípico, Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância (Transtorno com Hipercinesia associada a Retardo Mental e a Movimentos estereotipados, além dos Transtornos Globais Não Especificados do Desenvolvimento e dos Transtornos Globais do Desenvolvimento propriamente dito. 
Estudos demonstraram uma grande diversidade entre indivíduos classificados como TID e TGD, e a comunidade cientifica decidiu  optar pelo termo Transtorno do Espectro Autista - TEA, que abarca as condições: O Transtorno autista, o Transtorno/Síndrome de Asperger, e os TGD e TID e todas as denominações anteriormente determinadas a partir desta ultima atualização do DSM V, e assim preponderando o caráter dimensional dos quadros clínicos em detrimento da tentativa de estabelecer fronteiras claramente definidas entre os diagnósticos.
O termo "espectro" reflete a ampla variação na dimensão e características das pessoas com autismo, e alguns atrasos no desenvolvimento associados ao autismo, que podem ser identificados e abordados bem cedo. Cada pessoa pode apresentar uma variedade de sinais e sintomas com diferentes níveis de gravidade, entretanto os impactos mais consideráveis e presentes em todos os casos está relacionado a comunicação social e comportamentos repetitivos ou restritivos, formando assim a díade do autismo.
Tudo isso parece muito complexo, e de fato é, mas a fim simplificar um pouco este entendimento, e justificar por qual motivo temos encontrado tantos casos diagnosticados ultimamente, sendo muitos destes em adultos, tendo em vista que estes estão se reconhecendo dentro do espectro devido a divulgação ampliada que ultimamente estamos observando, o que é muito bom, além disso, há uma maior conscientização de clínicos, uma melhor detecção de casos sem deficiência mental, uma melhora nos serviços de atendimento, o que incentiva o diagnostico, já que pais e profissionais encontram recursos para diagnosticar e tratar, além do aumento dos estudos epidemiológicos populacionais, internacionais, que contribuem para a detecção de casos não identificados em amostras anteriormente efetuadas.
Mas como dito, o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, assim como o TDAH, Dislexia,  e outros transtornos conhecidos. Mas o que significa isto? 
O autismo faz parte dos transtornos do neurodesenvolvimento, ou seja, são aqueles natos, já nascemos com ele, e estão relacionados ao desenvolvimento neurobiológico, sendo assim, não se desenvolvem durante a vida, e grande parte destes transtornos estão relacionados às questões genéticas, embora também já foram observados casos diagnosticados, em menor numero, sem uma comprovação genética relacionada diretamente, e sim a outros fatores. 
Estudos mostram que pais mais velhos, principalmente mães, tem um risco aumentado em ter filhos com TEA, uma das causas não genéticas apresentadas para o desenvolvimento deste transtorno, quando comparado a pais mais jovens. Outras possibilidades como infecções intrauterina, crianças nascidas pré maturas com baixo peso, e outras situações que geram problemas neurobiológicos, durante a gestação, também podem contribuir para o risco da criança nascer com TEA.
Os subgrupos relacionados a distribuição mostram que estes transtornos são mais frequentes em meninos que em meninas, cerca de 4 meninos para 1 menina, e as primeiras manifestações podem aparecer antes dos 36 meses de idade, ou seja quando se manifesta as dificuldades no desenvolvimento da fala e atenção compartilhada (capacidade de coordenar a atenção junto com um parceiro social em relação a um objeto). 
A identificação precoce sempre trará benefícios para o tratamento com intervenções comportamentais especificas, portanto é importante avaliar questões relacionadas ao desenvolvimento dos seguintes temas:
  • Comunicação Social Atípica (forma como a criança se comunica - verbal e não verbal);
  • Modo de brincar incomum (isolamento, demonstração de interesse fixo por um brinquedo);
  • Prejuízos sensoriais - (relacionado a visualização, audição, lentidão motora e física e movimentação repetitivas (manias e estereotipias).
Estes fatos são os principais marcadores para avaliar uma criança com possibilidade de TEA, mas outros sinais também devem ser avaliados por profissionais especializados no tema.
Veja quadro a seguir:
Já para o diagnostico destes transtornos na vida adulta é necessário entender e conhecer como foi o desenvolvimento da pessoa durante a infância por se tratar de um transtorno do neurodesenvolvimento, e por este motivo muitas vezes há grandes dificuldades para concluir o diagnostico, tendo em vista que muitas vezes não se tem informações necessárias suficientes para isto, pois outras patologias podem trazer sintomas semelhantes. 
Alguns casos mais leves podem passar despercebidos durante a infância, embora a criança se sinta diferente e estranha, elas conseguem conviver "normalmente", porém com muito incomodo por perceberem grandes dificuldades principalmente no contexto social e na comunicação, que podem seguir até a fase adulta sem serem diagnosticados, e por este motivo muitos casos estão sendo diagnosticados tardiamente, na adolescência ou na fase adulta, onde este incomodo passa a ser mais evidente para o próprio individuo acometido pelo transtorno, quando este necessita interagir mais para os estudos e para o trabalho, incluindo a forma de  comunicação. 
As informações divulgadas ultimamente vem ampliando a busca destas pessoas pelo diagnóstico, utilizando-se da internet para obterem informações, vindo a procurar por ajuda médica e psicológica posteriormente. Assim venho percebendo os casos que tenho trabalhado no campo da neuropsicologia e da própria psicologia.
No Brasil, temos poucos recursos para avaliar o autismo em adultos, o que acaba sendo uma espécie de quebra cabeças para chegar a um diagnóstico, onde necessitamos utilizar de várias possibilidades, com recursos eliminatórios conjugados a uma longa observação clínica, testes psicológicos e neuropsicológicos, relatos do histórico comportamental e clínico de sua infância, além de informações familiares tendo em vista a carga genética.
Para um  diagnostico tardio mais eficaz, é importante esclarecer o perfil cognitivo e comportamental sobre o transtorno do espectro autista em cada indivíduo, por isso a necessidade de grande observação clinica junto com as demais análises já mencionadas, pois segundo o Manual de Diagnósticos dos Transtornos Mentais 5ª edição - (DSM-V) através do American Psychiatry Association -2014, que descreve os sintomas de TEA representando um continuum único de prejuízos que variam de leve a grave nos domínios de comunicação social e de comportamentos restritivos e repetitivos. 
Muitas vezes a avaliação do perfil cognitivo auxilia no diagnóstico diferencial com outros transtornos, como os transtornos de linguagem e de comunicação social ou mesmo na identificação de comorbidades, como no Transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), muito comum em pessoas com TEA, ou Deficiência Intelectual (DI), que através de uma avaliação neuropsicológica será possível traçar  um perfil de forças e fraquezas do funcionamento cognitivo descrevendo as habilidades preservadas e comprometidas do indivíduo, e assim estabelecer procedimentos de intervenção, pois  nestes casos o perfil intelectual é frequentemente irregular.
Com relação a Atenção, estudos indicam alterações nos processos atencionais em pessoas diagnosticadas com TEA, por exemplo déficits de alerta, orientação, fixação do olhar, déficits na sustentação da atenção, entre outros fatores que devem ser bem observados em uma avaliação neuropsicológica. Além disso outros fatores relacionados às funções executivas, também são observados em pacientes com TEA e comorbidos com TDAH.
No adulto, assim como na criança, os aspectos comportamentais são os que mais levam a iniciar um prognostico para TEA, e é onde se iniciam as investigações, por isso é de suma importância iniciar os processos de diagnóstico considerando estes aspectos:
  1. Dificuldades persistentes na comunicação social e interação social em vários contextos, que impactam as atividades de relacionamentos e questões profissionais e interação familiar;
  2. Comportamentos repetitivos, relacionadas a estereotipias simples e/ou complexas, como balançar o corpo, movimentar mãos e pernas, estalar dedos, uso repetitivo de objetos específicos;
  3. Interesses fixos restritos, com excessiva intensidade e foco;
  4. Padrões comportamentais de agressividade, como bater ou chutar, ser hostil, gritar, etc...;
  5. Comportamentos de auto agressividade, como bater em seu próprio corpo, arranhar-se, morder-se, cutucar a pele;
  6. Padrões de comportamentais associados a hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais, como indiferença a dor ou a temperatura (frio ou calor), reação a sons e texturas específicas, fascinação não usual por luzes ou objetos em movimentos, incluindo brinquedos e jogos;
  7. Excesso de organização, como enfileirar objetos, brinquedos;
  8. Extrema irritação em ser contrariado.
Estes são alguns dos sinais com finalidade de alertar na busca para um diagnóstico com possibilidade de TEA, porém vale salientar que estes sintomas isolados não significam diagnóstico, sempre necessário efetuar uma série de avaliações e testes, independente da idade para se fechar o diagnóstico, pois como dito anteriormente, podem estar presentes em outros transtornos também.
O Transtorno do espectro autista não tem cura, mas sim tratamentos adequados para cada caso, a fim de melhorar os comportamentos e os déficits cognitivos apresentados, uma vez que os prejuízos podem ser variados dentro de sua complexidade, que devem ser observados no seu universo a fim de compreender quais alterações são possíveis de serrem tratadas e a qual tempo.
Estabelecer os padrões facilitam no diagnóstico diferenciado, e assim possibilita as ações de intervenção.
Sempre procure ajuda de especialistas, (médicos, psicólogos e neuropsicólogos) com experiência a fim de que sua dúvida seja compreendida, pois é fato que há um alivio ao entender os motivos que levam a se sentir diferente e poder ser tratado.

Fonte: 
Autismo: Avaliação psicológica e neuropsicológica - Cleonice Alves Bosa, Maria Cristina T. V. Teixeira  (Orgs) Ed. Hogrefe
Imagens: Pinterest.com - autismo