segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

DEPENDÊNCIA TECNOLÓGICA


DEPENDÊNCIA TECNOLÓGICA

Novos tempos, novos costumes e novas dependências.  E como lidar com isso?

Redes sociais, jogos eletrônicos, a forma de trabalhar e de se comunicar atualmente, é muito diferente de tempos atrás. Todos, desde os mais jovens aos mais velhos precisam se adaptar a esse novo conceito de vida, e que é de fato inovador e porque não dizer, de extrema importância. Mas aquilo que deveria ser um aliado, um facilitador para nossas vidas, vem trazendo grandes preocupações, pois a dependência, o vicio que é gerado pelo excesso de necessidade das pessoas estarem o tempo todo conectadas, virou um grande problema, seja nas crianças ou nos adultos.

E como podemos identificar se existe uma dependência ou uma necessidade do uso da internet, tendo em vista que a cada dia temos mais trabalho e coisas a fazer na internet?

De fato, atualmente as pessoas usam a internet para resolver quase tudo em suas vidas, e assim como no surgimento de equipamentos como a calculadora por exemplo, que criou uma facilidade em resolver cálculos  matemáticos, as pessoas acabaram deixando de fazer contas de cabeça ou no papel e somente utilizam de suas calculadoras, cada vez mais sofisticadas, mesmo para resolver as questões aritméticas mais simples. É possível notar que agora muitas pessoas tem dificuldade em resolver cálculos aritméticos simples, sem uso das calculadoras, ou seja, estamos cada vez mais dependentes deste aparelhinhos. 
E assim também é com a internet, estamos cada vez mais reduzindo nossa capacidade de pensar e memorizar, permitindo que a máquina nos traga as respostas que precisamos rapidamente, e assim vamos criando uma dependência cada vez maior, e tudo que cria facilidade e é bom, dá prazer e pode levar ao vício.

Aqui vamos abordar a questão da dependência tecnológica relacionada ao vício, tanto para as atividades diárias, redes sociais e principalmente para os jogos eletrônicos que tanto fascinam as crianças e também os adultos, além das redes sociais, cada dia mais próximo de nós.




Como qualquer dependência, tudo começa com o impulso e o desejo de fazer algo que leva ao prazer  e a um comprometimento do estado psicológico de forma repetitiva e impulsiva.
Mas podemos utilizar a internet a nosso favor, sem criar uma dependência, por isso é importante iniciar este nosso assunto comentando sobre a dependência já na infância, pois muitas vezes incentivadas pelos pais, mesmo sem perceberem.

Há atualmente uma preocupação em torno dos pediatras e neuropediatras no que tange os transtornos de dependência infantil pela internet, e com isso algumas propostas estão sendo estudadas pelas politicas de saúde mental infantil com a finalidade de proteger a integridade e o bem estar neurológico das crianças, tendo em vista que é na infância onde ocorre o maior desenvolvimento neurológico do ser humano, e esta dependência pode gerar mudanças estruturais nas regiões neurais associadas ao vício que podem prejudicar o desenvolvimento destas crianças. Por isso, devem os pais e responsáveis serem agentes de controle, para evitar que isto aconteça, mas não é muito fácil nos dias de hoje em que todos parecem ser iguais.



Chamado de TRANSTORNO DE DEPENDÊNCIA DE TELAS - "Comportamento Aditivo", uma nomenclatura utilizada para definir o numero cada vez maior de crianças envolvidas em diferentes atividades utilizando as telas de computador e celular ou tablets de maneira dependente e problemática, principalmente quando relacionadas aos jogos e videos.  
Percebemos que desde bebes os pais já incentivam seus filhos a ficarem atentos assistindo a filmes e  joguinhos infantis para distraí-los enquanto fazem outras tarefas, permitindo que a criança fique até por horas olhando a telinha se distraindo, este comportamento já começa a gerar uma dependência e desejo por querer mais e mais. 

Para que se utilize estas ferramentas de forma saudável, o ideal é não começar tão cedo assim, e também estimular a criança em outras atividades lúdicas com outros brinquedos educativos que a farão pensar e se desenvolver adequadamente. 
Sabemos que no mundo atual, não é possível excluir as crianças destas atividades, mas tudo deve ser feito de forma comedida, sem exageros, mas sabemos que as vezes se torna fácil e cômodo para os pais e cuidadores permitir que passem muito tempo em contato com as telinhas de celular e tablets, e não fazem ideia que podem estar prejudicando as crianças, por não saberem das patologias que estão sendo geradas pelo excesso de uso de tecnologias comprometendo o funcionamento geral do indivíduo, conforme constam do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mentais (DSM-5), pois estudos afirmam que o transtorno do jogo pela internet de uso persistente e recorrente, leva a prejuízos clinicamente significativos ou a sofrimentos conforme indicado por 5 ou mais dos sintomas descritos abaixo em um período de 12 meses:
  1. Preocupação com os jogos pela internet,  ou  uso das redes sociais de forma constante e excessiva;
  2. Sintomas de abstinência, principalmente quando são impossibilitados de utilizar a internet, demostrando excessiva irritabilidade, ansiedade ou tristeza;
  3. Tolerância -  Necessidade de ficar cada vez mais tempo jogando,ou utilizando as redes sociais;
  4. Tentativas fracassadas de controlar a participação nos jogos de internet ou visualização nas redes sociais;
  5. Perda de interesse por outros passatempo como esportes, televisão, atividades escolares, sair com amigos, etc...;
  6. Uso continuado, apesar de saber as consequências, fora de controle;
  7. Tenta enganar os adultos, ou outras pessoas, sobre o tempo que utiliza jogando pela internet, ou utilizando as redes sociais;
  8. Uso dos jogos para melhorar o humor, redes sociais para conversar com pessoas, ou desculpa para se sentir melhor;
  9. Colocar em risco, amizades, relacionamentos, perda de compromissos importantes, aulas, provas, emprego.
  10. Percepção de ausência do mundo real.
FATORES DE RISCO

Os fatores de risco estão associados a desenvolvimento de alguns transtornos biopsicossocial relacionados aos padrões do uso da Internet: 
  • Fatores psicopatológicos: Desenvolvimento de TDAH - (Transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade ), desenvolvimento de transtornos depressivos e ansiosos, fobia social, possibilita o uso de substâncias químicas, desenvolvimento de TOC - Transtorno obsessivo compulsivo) - (Vondráckóva & Gabhrelik 2016);
  • Características de personalidade: elevada procura por novidades, baixa dependência por recompensas, introversão, reduzida consciencialidade e agradabilidade baixa, estabilidade emocional e hostilidade, baixo nível de controle e auto-regulação, pouca empatia;
  • Desenvolvimento de Padrões de Internet: Grande número de horas gastas na internet, não valorizando o seu próprio tempo para se autodesenvolver, necessidade de manter-se muitas horas on-line, perda de sono;
  • Fatores sócio demográficos: Não vê vantagens em relacionamentos sociais (namoro, sexo, família);
  • Alto grau de estresse, solidão, aceitação social.
COMO TRATAR

Todo inicio de tratamento está relacionado à conscientização do problema, este será o primeiro passo, tanto para crianças, que deve ser identificado o problema principalmente pelos pais, como para os adultos. 
No caso das crianças, será necessário um empenho importante do adulto, cuidador, professor ou orientador/terapeuta, todos devem concentrar no desenvolvimento das habilidades específicas citadas mais abaixo, e observar o comportamento de forma constante para fazer uma re-educação.


As habilidades específicas devem ser desenvolvidas identificando as questões relacionadas a:
  • Uso da internet - com apoio familiar, orientadores, amigos e psicoterapeuta:
    • Redução da expectativa de resultados positivos no uso da Internet;
    • Desenvolvimento do auto-controle;
    • Desenvolvimento da auto-eficácia ou abstinência de dependência online;
    • Capacidade de identificar os pensamentos desadaptativos relacionadas ao comportamento aditivo (dependência das telas), gerando mudanças comportamentais no ato que surgir este sentimento - mudança de foco;
  • Enfrentamento do Estresse e Emoções - com apoio do psicoterapeuta:
    • Desenvolver estratégias individuais de enfrentamento;
    • Melhorar a capacidade de regular e processar suas emoções;
    • Reduzir sentimentos de hostilidade;
    • Encorajamento de traços positivos de personalidade;
    • Melhorar a autoestima;
  • Situações Interpessoais - com apoio familiar e psicoterapia, grupo de convívio:
    • Reduzir a sensibilidade interpessoal - desconforto da proximidade social;
    • Reforço da inteligência emocional;
    • Fortalecimento das competências sociais para reforçar as regras de justiça e tolerância dentro de seus grupos sociais;
    • Realizar atividades em grupo de tempo livre com amigos e familiares;
  • Uso do tempo livre - controle do tempo- com apoio familiar e psicoterapeuta e orientadores:
    • Estabelecer uma rotina diária;
    • Manter um horário para dormir e tempo de sono;
    • Incentivar a participação em atividades saudáveis e criativas, exploratórias e empolgantes;


APOIO FAMILIAR

A família sempre será o principal ponto de apoio destas pessoas, que também precisarão perceber o seu papel no tratamento de quem está afetado, além de poder também se perceber neste contexto.
A presença de alguns fatores relacionado aos estilos parentais, já comentado em outra postagem onde abordo como interagir com seu filho, podem facilitar o desenvolvimento destes vícios,  por isso tratar os familiares extremamente importante dentro do processo psicoterápico a fim de permitir que estes se sintam fortalecidos para apoiar seu filho ou parente adoecido.
Estes cuidados devem ser concentrados em 2 habilidades específicas:
  1. Encorajar os relacionamentos afetivos:
    • Melhorar a comunicação;
    • Avaliar o tempo que dedicam a família;
    • Ser empático, ou seja, perceber a necessidade dos filhos;
    • Melhorar a saúde mental dos pais, que muitas vezes também já estão afetados pelos mesmos problemas;
  2. Competências relacionadas a monitoração e utilização da internet e como entender a necessidade dos filhos no uso destas ferramentas:
    • Conscientização do uso e necessidade;
    • Monitoramento o uso da internet pela criança/adolescente;
    • Estabelecer regras claras que regulam o uso e os conteúdos permitidos para as atividades on-line;
    • Mediar o uso, ou seja participar na forma de discussões em conjunto com a criança ou jovem, e mostrar os motivos das restrições do uso para que sejam bem entendidas;
    • Adotar normas adaptativas de uso da internet, e adesão consistente a elas entre os pais;
    • Dar o exemplo.


DEPENDÊNCIA TECNOLÓGICA NAS EMPRESAS

A dependência tecnológica pode se estender no ambiente de trabalho, tanto por incentivo das próprias empresas, como por um vicio já adquirido do funcionário. Em empresas com conexão com a Internet aberta, recomenda-se apoiar a responsabilidade de uso adequado das informações para apoio do trabalho, com integridade e ética dos funcionários
Mas é importante que os gestores percebam os primeiros sinais da dependência tecnológica e apoiem a busca de ajuda, além disso, é importante que as empresas organizem seminários e palestras educacionais para abordar o tema, além de criar sistemas de monitoramento de seus empregados.(Vondrácková & Gabrhielik)

A IMPORTÂNCIA DA INTERNET

Não é possível mais voltar no tempo. A internet fez a conexão do mundo em tempo real, hoje sabemos o que acontece do outro lado do mundo quase que imediatamente ao ocorrido, não dá para dizer que isto é ruim, muito pelo contrario, a tecnologia está ai para ajudar a todos no desenvolvimento de seu trabalho, estudos e até na diversão.
As crianças já nascem tecnológicas, os pais de hoje já são tecnológicos, e como evitar isso? Não é isso que é importante, o que é importante é se cuidar para que toda essa facilidade não faça o ser humano regredir em seu potencial de conectividade consigo mesmo e com as pessoas, evitar que as pessoas sejam unicamente virtuais, robotizadas e sem emoção, este é o grande papel da nova sociedade que está surgindo.


Fonte:
Dependência Tecnológica - Transtorno do Jogo pela Internet Estratégias de Prevenção e Intervenção
Regina Maria Fernandes Lopes
Roberta Fernandes Lopes do Nascimento
Fernanda Fernandes Lopes
Paulo Roberto de Oliveira Lopes