quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA - TEA

O QUE CONHECEMOS SOBRE O TEMA

O autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), como atualmente é chamado, refere-se  a uma condição de saúde caracterizada por prejuízos em 3 importantes áreas do desenvolvimento humano: Habilidades sócioemocionais, atenção compartilhada e comunicação/linguagem. 
É fato que atualmente temos ouvido falar muito mais sobre o autismo, e parece que também mais pessoas vem sendo diagnosticadas, principalmente após a ultima  revisão da Classificação Internacional das Doenças e de Problemas Relacionados a saúde - CID 10, e o Manual de Diagnósticos dos Transtornos Mentais 5ª edição - (DSM-V), onde optou-se pelo termo TEA - Transtorno do Espectro Autista, que substitui os termos anteriormente utilizados como Transtornos Globais do Desenvolvimento-TGD e Transtornos Invasivos do Desenvolvimento-TID, este ultimo já havia ampliado o conceito de autismo para as seguintes condições: Autismo Infantil, Autismo Atípico, Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância (Transtorno com Hipercinesia associada a Retardo Mental e a Movimentos estereotipados, além dos Transtornos Globais Não Especificados do Desenvolvimento e dos Transtornos Globais do Desenvolvimento propriamente dito. 
Estudos demonstraram uma grande diversidade entre indivíduos classificados como TID e TGD, e a comunidade cientifica decidiu  optar pelo termo Transtorno do Espectro Autista - TEA, que abarca as condições: O Transtorno autista, o Transtorno/Síndrome de Asperger, e os TGD e TID e todas as denominações anteriormente determinadas a partir desta ultima atualização do DSM V, e assim preponderando o caráter dimensional dos quadros clínicos em detrimento da tentativa de estabelecer fronteiras claramente definidas entre os diagnósticos.
O termo "espectro" reflete a ampla variação na dimensão e características das pessoas com autismo, e alguns atrasos no desenvolvimento associados ao autismo, que podem ser identificados e abordados bem cedo. Cada pessoa pode apresentar uma variedade de sinais e sintomas com diferentes níveis de gravidade, entretanto os impactos mais consideráveis e presentes em todos os casos está relacionado a comunicação social e comportamentos repetitivos ou restritivos, formando assim a díade do autismo.
Tudo isso parece muito complexo, e de fato é, mas a fim simplificar um pouco este entendimento, e justificar por qual motivo temos encontrado tantos casos diagnosticados ultimamente, sendo muitos destes em adultos, tendo em vista que estes estão se reconhecendo dentro do espectro devido a divulgação ampliada que ultimamente estamos observando, o que é muito bom, além disso, há uma maior conscientização de clínicos, uma melhor detecção de casos sem deficiência mental, uma melhora nos serviços de atendimento, o que incentiva o diagnostico, já que pais e profissionais encontram recursos para diagnosticar e tratar, além do aumento dos estudos epidemiológicos populacionais, internacionais, que contribuem para a detecção de casos não identificados em amostras anteriormente efetuadas.
Mas como dito, o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, assim como o TDAH, Dislexia,  e outros transtornos conhecidos. Mas o que significa isto? 
O autismo faz parte dos transtornos do neurodesenvolvimento, ou seja, são aqueles natos, já nascemos com ele, e estão relacionados ao desenvolvimento neurobiológico, sendo assim, não se desenvolvem durante a vida, e grande parte destes transtornos estão relacionados às questões genéticas, embora também já foram observados casos diagnosticados, em menor numero, sem uma comprovação genética relacionada diretamente, e sim a outros fatores. 
Estudos mostram que pais mais velhos, principalmente mães, tem um risco aumentado em ter filhos com TEA, uma das causas não genéticas apresentadas para o desenvolvimento deste transtorno, quando comparado a pais mais jovens. Outras possibilidades como infecções intrauterina, crianças nascidas pré maturas com baixo peso, e outras situações que geram problemas neurobiológicos, durante a gestação, também podem contribuir para o risco da criança nascer com TEA.
Os subgrupos relacionados a distribuição mostram que estes transtornos são mais frequentes em meninos que em meninas, cerca de 4 meninos para 1 menina, e as primeiras manifestações podem aparecer antes dos 36 meses de idade, ou seja quando se manifesta as dificuldades no desenvolvimento da fala e atenção compartilhada (capacidade de coordenar a atenção junto com um parceiro social em relação a um objeto). 
A identificação precoce sempre trará benefícios para o tratamento com intervenções comportamentais especificas, portanto é importante avaliar questões relacionadas ao desenvolvimento dos seguintes temas:
  • Comunicação Social Atípica (forma como a criança se comunica - verbal e não verbal);
  • Modo de brincar incomum (isolamento, demonstração de interesse fixo por um brinquedo);
  • Prejuízos sensoriais - (relacionado a visualização, audição, lentidão motora e física e movimentação repetitivas (manias e estereotipias).
Estes fatos são os principais marcadores para avaliar uma criança com possibilidade de TEA, mas outros sinais também devem ser avaliados por profissionais especializados no tema.
Veja quadro a seguir:
Já para o diagnostico destes transtornos na vida adulta é necessário entender e conhecer como foi o desenvolvimento da pessoa durante a infância por se tratar de um transtorno do neurodesenvolvimento, e por este motivo muitas vezes há grandes dificuldades para concluir o diagnostico, tendo em vista que muitas vezes não se tem informações necessárias suficientes para isto, pois outras patologias podem trazer sintomas semelhantes. 
Alguns casos mais leves podem passar despercebidos durante a infância, embora a criança se sinta diferente e estranha, elas conseguem conviver "normalmente", porém com muito incomodo por perceberem grandes dificuldades principalmente no contexto social e na comunicação, que podem seguir até a fase adulta sem serem diagnosticados, e por este motivo muitos casos estão sendo diagnosticados tardiamente, na adolescência ou na fase adulta, onde este incomodo passa a ser mais evidente para o próprio individuo acometido pelo transtorno, quando este necessita interagir mais para os estudos e para o trabalho, incluindo a forma de  comunicação. 
As informações divulgadas ultimamente vem ampliando a busca destas pessoas pelo diagnóstico, utilizando-se da internet para obterem informações, vindo a procurar por ajuda médica e psicológica posteriormente. Assim venho percebendo os casos que tenho trabalhado no campo da neuropsicologia e da própria psicologia.
No Brasil, temos poucos recursos para avaliar o autismo em adultos, o que acaba sendo uma espécie de quebra cabeças para chegar a um diagnóstico, onde necessitamos utilizar de várias possibilidades, com recursos eliminatórios conjugados a uma longa observação clínica, testes psicológicos e neuropsicológicos, relatos do histórico comportamental e clínico de sua infância, além de informações familiares tendo em vista a carga genética.
Para um  diagnostico tardio mais eficaz, é importante esclarecer o perfil cognitivo e comportamental sobre o transtorno do espectro autista em cada indivíduo, por isso a necessidade de grande observação clinica junto com as demais análises já mencionadas, pois segundo o Manual de Diagnósticos dos Transtornos Mentais 5ª edição - (DSM-V) através do American Psychiatry Association -2014, que descreve os sintomas de TEA representando um continuum único de prejuízos que variam de leve a grave nos domínios de comunicação social e de comportamentos restritivos e repetitivos. 
Muitas vezes a avaliação do perfil cognitivo auxilia no diagnóstico diferencial com outros transtornos, como os transtornos de linguagem e de comunicação social ou mesmo na identificação de comorbidades, como no Transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), muito comum em pessoas com TEA, ou Deficiência Intelectual (DI), que através de uma avaliação neuropsicológica será possível traçar  um perfil de forças e fraquezas do funcionamento cognitivo descrevendo as habilidades preservadas e comprometidas do indivíduo, e assim estabelecer procedimentos de intervenção, pois  nestes casos o perfil intelectual é frequentemente irregular.
Com relação a Atenção, estudos indicam alterações nos processos atencionais em pessoas diagnosticadas com TEA, por exemplo déficits de alerta, orientação, fixação do olhar, déficits na sustentação da atenção, entre outros fatores que devem ser bem observados em uma avaliação neuropsicológica. Além disso outros fatores relacionados às funções executivas, também são observados em pacientes com TEA e comorbidos com TDAH.
No adulto, assim como na criança, os aspectos comportamentais são os que mais levam a iniciar um prognostico para TEA, e é onde se iniciam as investigações, por isso é de suma importância iniciar os processos de diagnóstico considerando estes aspectos:
  1. Dificuldades persistentes na comunicação social e interação social em vários contextos, que impactam as atividades de relacionamentos e questões profissionais e interação familiar;
  2. Comportamentos repetitivos, relacionadas a estereotipias simples e/ou complexas, como balançar o corpo, movimentar mãos e pernas, estalar dedos, uso repetitivo de objetos específicos;
  3. Interesses fixos restritos, com excessiva intensidade e foco;
  4. Padrões comportamentais de agressividade, como bater ou chutar, ser hostil, gritar, etc...;
  5. Comportamentos de auto agressividade, como bater em seu próprio corpo, arranhar-se, morder-se, cutucar a pele;
  6. Padrões de comportamentais associados a hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais, como indiferença a dor ou a temperatura (frio ou calor), reação a sons e texturas específicas, fascinação não usual por luzes ou objetos em movimentos, incluindo brinquedos e jogos;
  7. Excesso de organização, como enfileirar objetos, brinquedos;
  8. Extrema irritação em ser contrariado.
Estes são alguns dos sinais com finalidade de alertar na busca para um diagnóstico com possibilidade de TEA, porém vale salientar que estes sintomas isolados não significam diagnóstico, sempre necessário efetuar uma série de avaliações e testes, independente da idade para se fechar o diagnóstico, pois como dito anteriormente, podem estar presentes em outros transtornos também.
O Transtorno do espectro autista não tem cura, mas sim tratamentos adequados para cada caso, a fim de melhorar os comportamentos e os déficits cognitivos apresentados, uma vez que os prejuízos podem ser variados dentro de sua complexidade, que devem ser observados no seu universo a fim de compreender quais alterações são possíveis de serrem tratadas e a qual tempo.
Estabelecer os padrões facilitam no diagnóstico diferenciado, e assim possibilita as ações de intervenção.
Sempre procure ajuda de especialistas, (médicos, psicólogos e neuropsicólogos) com experiência a fim de que sua dúvida seja compreendida, pois é fato que há um alivio ao entender os motivos que levam a se sentir diferente e poder ser tratado.

Fonte: 
Autismo: Avaliação psicológica e neuropsicológica - Cleonice Alves Bosa, Maria Cristina T. V. Teixeira  (Orgs) Ed. Hogrefe
Imagens: Pinterest.com - autismo

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

 CONTROLE DAS EMOÇÕES VERSUS A INTOLERÂNCIA

Temos observado que ultimamente, a cada dia que passa, o ser humano vem se tornando mais intolerante, com grande dificuldade de controlar suas emoções, principalmente de raiva e ódio, diante de situações conflitivas.
Um triste exemplo disso é o que vem acontecendo com muita frequência em todo mundo, relacionado ao radicalismo mediante às situações de conflitos, seja por motivos banais, seja por causas teoricamente justificáveis. Estes fatos estão cada vez mais sendo noticiados na mídia, mostrando pessoas agredidas e assassinadas brutalmente, muitas vezes por ideologias diversas e banalidades estúpidas, como este caso que assistimos com grande tristeza em Porto Alegre neste ultimo dia 19/11/2020. Neste exemplo, do homem negro morto pelos seguranças de um supermercado, vamos tentar observar o comportamento de todos os envolvidos nesta triste história, e como as pessoas chegam em tamanha brutalidade.
Pensando num contexto de preparo profissional, precisamos entender alguns pontos: Como estas pessoas são preparadas psicologicamente para lidar com situações de conflito e confronto? Que equilíbrio emocional possuem, ou seja, como são contratadas e treinadas pelas empresas que prestam este tipo de serviço?
Normalmente para atividades onde naturalmente é necessário lidar com algum tipo de conflito, ou exposição a fortes emoções, é necessário uma avaliação psicológica para entender a capacidade do individuo e suas reações de acordo com sua personalidade, tendo em vista ser uma tarefa muito difícil que precisa ter muito controle emocional, para proteger o patrimônio e quem ali frequenta. 
Então vale uma observação: Porque estas pessoas não conseguiram controlar suas emoções? Porque não conseguiram impor limites a si mesmo, permitindo-lhes que tal fato ocorresse? E por último, as pessoas que assistiram, filmaram, o que pensavam? O que sentiam naquele momento de sofrimento alheio? Porque não reagiram? 
É importante enfatizar que aqui não cabe julgamentos e sim o entendimento destes comportamentos, de forma mais coletiva e não individual. 
Por isso vamos entender melhor sobre nossas emoções e como elas surgem.
O conhecimento que temos hoje sobre as emoções, derivam de estudos relacionados aos aspectos fisiológicos, psicológicos, socioculturais e cognitivos. Há uma enormidade de conceitos sobre as emoções, alguns concentram-se mais nos processos cognitivos, enquanto outros enfatizam o fisiológico e o social. Mas particularmente acredito que tudo isso esteja relacionado, pois nossa base está no desenvolvimento cognitivo, relacionado às questões fisiológicas, socioambientais e culturais, e é por este motivo, que pessoas com as mesmas condições fisiológicas podem desenvolver comportamentos diferentes de acordo com o meio onde vivem, da forma que são compreendidos e educados, relacionados às necessidades que os envolvem para assim obter o desenvolvimento do seu caráter, dentro de um contexto psicológico.
Indo um pouco mais além, compreendemos como precisamos que todas as emoções estejam presentes em nossa vida para um bom desenvolvimento psicológico. Se alguém nunca assistiu ao desenho "divertidamente", eu o recomendo. 
Vale enfatizar que é necessário prestar mais atenção como cada um reage a cada situação, por isso  vamos entender melhor o significado de cada emoção para saber se estão usando-as de forma assertiva, passiva ou agressiva, tendo em vista que no dia a dia, podemos identificar pessoas que reagem das 3 formas.
Pensando um pouco mais, enquanto ciência, a descoberta do gene, como via de transmissão de caracteres, bem como os avançados modelos da genética molecular, pode-se aceitar as ideias de Darwin, adormecidas por um longo período de tempo, e nesta lógica evolucionista mostram que as emoções possuem duas funções básicas: estratégias reativas à ativação das emoções e a comunicação essencial das espécies sociais. 
Observando os modelos mentais descrito por Edelman (1992), conclui-se que as vias neurais são estimuladas neste precoce processo de categorização dos estímulos, ou seja, a base para lidar com cada emoção é biologicamente ativada de acordo com os estímulos que  são oferecidos. 
Mas, neste momento do desenvolvimento humano, estamos longe de ter consciência habilitada mediadora e interpretativa dos fatos a nossa volta, todavia já registramos nossas ativações emocionais, por isso que muitas vezes as pessoas não conseguem justificar suas reações, e necessitam de autoconhecimento para equilibrar e entender cada situação e reação.
Assim os comportamentos seriam desencadeados por emoções favorecendo a adaptação e a transformação social e pessoal. Dentro deste contexto, muitos podem dizer que sentir raiva é ruim, mas este sentimento, apesar de parecer negativo, também é necessário, por isso é importante entender a função de cada emoção e quando elas podem se tornar patológica, tanto pelo excesso, como pela falta destes sentimentos, como descreverei a seguir.
MEDO: Sua função básica é a preservação da vida, gera o ato de reflexo de luta, fuga ou "freezing", podendo apresentar respostas fisiológicas como: sudorese, taquicardia, visão turva, entre outros, estas reações sensoriais são necessárias para preparar nosso organismo para qualquer situação que este sentimento tenha como proposito.
    Patologia do Medo: 
    Excesso: Fobias e preocupações ao nível de ansiedade generalizada e pânico.
    Ausência: Provoca a impulsividade podendo se colocar em Risco.

RAIVA: Função básica é a proteção de si e do seu território, despertada a partir da percepção de ataque, e socialmente assume a função de preservação.  As espécies sociais evitam, sobremodo o embate em função do risco promovido, porém o sentimento de raiva ajuda no posicionamento para  se impor e colocar limites ao outro sobre possível abuso de se tornar inconveniente, para impedir a invasão de privacidade, promovendo a autonomia e a auto eficácia.
   Patologia da Raiva:
    Excesso: Transtorno explosivo, intermitente, perda de controle, intolerância, possível dano a si              próprio e aos outros;
   Ausência: Dependência, falta de capacidade de impor limites, comprometendo sua autonomia e auto       eficácia.
Neste ponto, vale retomar nosso tema inicial, porque excessos estão surgindo, será que é algo novo, ou sempre estiveram presentes? Estamos observando um nível de descontrole absoluto das pessoas no sentido de não perceber seus próprios limites e o quanto estão se expondo ao risco. A necessidade de defender seu espaço, inclui razões, credos e pensamentos, seja pelo desejo que outros compactue com suas ideias e regras, como vimos recentemente nas redes sociais entre os extremos pensamentos de cunho político. 
A empatia, que é a capacidade de nos colocar no lugar do outro vem sendo reduzida, promovendo sentimentos extremamente egocêntricos,  somados ao medo de perda de algo, seja um objeto, uma pessoa, um lugar, ou uma posição.

O ser humano é a única espécie conhecida, capaz de ser mais sociável, embora outros animais também revelem esta capacidade de viver em em comunidade para proteção do grupo. 
Desde os primórdios, os humanos também perceberam que viver em sociedade pode trazer-lhes benefícios, por serem capazes de utilizar-se das ferramentas funcionais da empatia como: a colaboração, o altruísmo e a compaixão. 

A ausência de empatia acaba por corroer a socialização, e paradoxalmente corrompe uma das características mais adaptativas dos seres humanos - o comportamento social, trazendo a tona mais agressividade e intolerância sem limites. 
Por outro lado, o medo também  não permite o envolvimento das pessoas, que apesar de sentir a dor do outro, não se envolvem por receio do comprometimento que isto poderia lhe causar, e também é uma forma de proteção de si e de quem precisa proteger, preferindo ignorar o que acontece a sua volta. 
A falta ou excesso de empatia, também gera julgamentos incorretos da situação observada, tanto de forma positiva como negativa, não permitindo o envolvimento.
Mas outras emoções, quando desequilibradas, também podem causar danos às pessoas, podendo inclusive levar dificuldades na demonstração e percepção de outras emoções.
Então vamos seguir falando do sentimento de tristeza. 

TRISTEZA: esta emoção é uma das manifestações da necessidade de cuidado e de atenção, lançada ao meio ambiente em direção aos que os cercam. Na medida saudável permite a reflexão, ativando o processamento metacognitivo para avaliar condutas, objetivas e direcionamento de metas, bem como o entendimento de nossas perdas.
         Patologia da Tristeza:     
        Excesso: Depressão, que leva o individuo a estagnar-se, criar dependências, podendo em situações        extremas, criarem alterações drásticas da realidade, e desregular-se totalmente a ponto de                       não ver sentido  em sua vida, e neste caso alterando a prerrogativa biológica do ser humano da                autopreservação.
        Ausência: Pode estar associado ao estado de mania de baixa ativação metacognitiva, podendo ser            uma forma de defesa e evitação do sofrimento.

ALEGRIA: Já a alegria, o oposto da tristeza, serve como equilíbrio contra as emoções desagradáveis, reforça fortemente os vínculos sociais, fomentando a socialização permitindo um ganho bilateral de interações sociais positivas.
      Patologias da Alegria;   
      Excesso: associados a casos de Mania ou mecanismos de defesa para o não sofrimento;   
      Ausência: Refere-se a presença de humor rebaixado representado pelo estado depressivo                          maior, necessitando de tratamento farmacológico, assim como o excesso.

AMOR: Esta emoção está fortemente ligada ao apego, com funções importantes adaptativas transformando-se em vínculos afetivos. É através da função do sentimento de amor que podemos ter várias possibilidades de expressão com diferentes valências, que serve para reproduzirmos e cuidarmos adequadamente de coisas e pessoas - (filhos, pais, parentes, amigos, cônjuge, animais, objetos, etc...) e a partir desta emoção é que derivam várias formas de gostar, pois tudo o que gostamos envolve algum tipo de apego afetivo, em maior ou menor valência, (incluindo as pessoas e objetos), este sentimento permite a plasticidade social, podendo potencializar o sentimento de alegria.
        Patologias do Amor:
        Excesso: As doses elevadas de amor, pode não promover o treino da tolerância à frustração por             não instigar a autonomia e a auto eficácia (ciúmes e sentimento de posse);
        Ausência: A ausência e as doses baixas, não promovem o desenvolvimento da empatia e da                     socialização, em razão da falta do senso de proteção.
NOJO: Por fim o sentimento de nojo ou repugnância, também tem sua importância neste contexto, deriva da necessidade de evitarmos nossa contaminação com coisas deterioradas ou estragadas a fim de nos proteger com relação a nossa saúde, podendo também gerar reações fisiológicas de rejeição, como vômitos, sendo esta uma reação do nosso organismo para expulsão daquilo que se acredita estar contaminado. 
Mas este sentimento também está relacionado ao comportamento de repulsa e rejeição referente às questões interpessoais, corporais e morais, sendo ele muito influenciado por questões  culturais de repulsa devido à conduta de pessoas que entendemos não estar de acordo com o que se acredita e se deseja.
    Patologias do Nojo:
    Excesso: Pode estar associado ao Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e nos casos relacionados     às questões socioculturais, podem causar graves patologias mentais de interação social;
    Ausência: Está relacionado a impulsividade e a falta de discriminação do que deve ser repelido,             podendo colocar sua vida em risco.

Resumindo, observa-se que todas as emoções são importantes, desde que equilibradas, para nosso bom desenvolvimento psicológico. A falta deste equilíbrio, leva  as pessoas a comprometerem sua própria vida. A diminuição do sentimento de AMOR, mostra a dificuldade atual de sentir empatia, e desta forma acaba por impedir que os demais sentimentos se desenvolvam de forma adequada.
Este é um momento de alerta, pois mostra que as pessoas precisam reaprender o significado dos seus sentimentos e a base da socialização saudável no desenvolvimento da resiliência, que é uma característica muito importante para as espécies sociais.
As emoções servem ao fim adaptativo de estratégias de sobrevivência e comunicação nas espécies sociais, sendo assim, concluímos que todos os serem humanos nascem com um conjunto básico de emoções, que mencionamos acima - Medo, Raiva, Alegria, Tristeza, Amor e Nojo.
Assim podemos entender que questões sociais estão fortemente ligadas a falta de empatia e a discriminação estruturada vivenciada em nosso meio, porém, devemos e podemos nos monitorar e observar como estamos lidando com estes sentimentos tão importantes para vivermos bem em sociedade.
A empatia é uma característica inata do ser humano, assim como de muitos outros animais que dependem de estímulos ambientais pela sensibilidade da intervenção com o meio, tanto para o aumento como para a redução da expressão dessa capacidade. As funções correlacionadas a empatia , já mencionadas acima, são as que realmente mostram este valor e que se fazem muito necessárias:
Cooperação - é a ajuda promovida a alguém ou algum organismo, mas para isto é necessário a percepção desta necessidade para cooperar;
Altruísmo - é a capacidade que as espécies possuem de se colocar em risco no intuito de ajudar o próximo, e a reciprocidade deste comportamento ajuda a estabilizar e a manter a harmonia e o senso de proteção em grupos sociais;
Compaixão - Capacidade de amenizar o sofrimento físico e psicológico em outrem.
Todas estas funções s]ao encontradas na natureza de diversas espécies, além dos humanos, e parece que nós precisamos reativar estas funções para vivermos melhor em sociedade.


FONTE: 
Baralho da regulação e proficiência emocional - Editora Synopsys - Renato M. Caminha e Marina G. Caminha
Imagens do filme Divertidamente

segunda-feira, 6 de julho de 2020


TOC - TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO


Hoje vamos falar de TOC o transtorno obsessivo compulsivo. 

E o que é esse tal de TOC?
O toc é um transtorno que afeta muitas pessoas, são as manias repetitivas e exageradas que atrapalham a vida social e emocional das pessoas, seja relacionado com a  limpeza, seja relacionado com a organização, seja relacionado às regras e comportamentos obsessivos, como explicarei mais adiante.
Mas é verdade que todos nós temos nossas manias, cada um a seu jeito, e como já disse em outras publicações, nem tudo é uma patologia, muitas destas manias fazem parte de nossa personalidade e do nosso cotidiano, que podem nos ajudar a organizar nosso tempo e nossa vida, e por isso que é importante ter muito cuidado ao rotular a si e aos outros, o diagnóstico deve ser feito de forma adequada, e como sempre observando o que é de fato um exagero comparado com o quanto isso  incomoda.
A maioria das pessoas com TOC são fáceis de serem identificadas, pois são aquelas cujas manias são tão extremas a ponto de atrapalhar a sua própria vida, pois perdem muito tempo cumprindo seus rituais, e tornam difícil a convivência  com as pessoas ao seu redor em decorrência de suas manias. São estes casos que precisamos observar e indicar para buscar ajuda e tratamento.

Estudos mostram que o estilo cognitivo do ser humano foi desenvolvido biologicamente de forma que, ao cometer um erro ele é tomado por uma sensação de desconforto, e com isso aprendemos comportamentos e esquemas cognitivos que possibilitam prever possíveis erros e riscos para uma reação antecipada, e isso é de grande importância do ponto de vista da sobrevivência e convivência social.

Atualmente, por conta da pandemia do COVID 19, muitas pessoas estão apresentando sintomas de TOC com uma frequência maior que antes por medo da contaminação, e pode-se observar alguns exageros. 
Embora a situação atual mereça mesmo uma atenção especial, pois precisamos destes cuidados mais extremos, é importante avaliar com mais cuidado os casos de TOC, pois pode se tratar de algo temporário afetado por um medo específico, tendo em vista a realidade que estamos vivenciando e enfrentando, considerando  a necessidade de lavar as mãos com maior frequência, limpar os móveis, objetos, compras, e toda essa nova rotina e dinâmica comportamental que começou recentemente a tomar conta do dia a dia das pessoas, pelo receio do contágio, levando-se em conta o fato de precisamos cuidar da higienização de forma adequada e mais intensa que antes.
Mas o que vem acontecendo é que algumas pessoas estão exagerando em lavar as mãos tantas vezes, passando álcool em gel que vem apresentando problemas de irritação de pele.
O que fazer então, o que é certo e o que é exagero?
Exagero é quando seus pensamentos, estão além da realidade do ponto de vista dos possíveis erros comentados acima, ou dos riscos que podem estar super calculados, e neste caso, sobre o fato da possibilidade de ser contaminado, qual o tamanho do seu medo?
Os pensamentos exagerados não saem da cabeça, mesmo quando se faz tudo o que é necessário fazer, e ainda assim se sente sujo como se precisasse repetir toda aquela rotina de limpeza, toda aquela ação repetidas vezes. Este é sentimento obsessivo, quando os pensamentos  parecem perseguir a pessoa o tempo todo, como se onde tocasse estivesse contaminado, independente de ter sido limpo diversas vezes.
Ou seja, a pessoa com TOC possui um circuito detector de erros muito mais funcional do que o necessário, tendendo não cessar sua atividade até que o erro seja identificado e corrigido, e enquanto isso não ocorre, sua mente faz com que tenha a sensação de que sempre há algo errado. Dessa maneira esse individuo se sente compelido a corrigir incessantemente seus erros (reais ou imaginários).
Mas o TOC não está restrito às pessoas com exagero de limpeza, há outros tipos de situações  em que o indivíduo acredita mentalmente que necessitam serem corrigidas.

Um dos mais comuns é aquele com mania de arrumação e organização,  nada pode estar fora do lugar, tudo precisa estar exageradamente organizado, e a todo instante precisam voltar e arrumar para que fique do seu jeito.

Quem não conhece alguém assim, que coloca as coisas na mesa do escritório organizadas por ordem de tamanho, cores conteúdos?
E tem aquele que gosta de guardar as roupas separadas por cores em degradê no guarda roupa, etc... E porque estas pessoas necessitam deste tipo de organização? Como funciona sua mente?
O TOC, está muito ligado ao medo e a necessidade e controle absoluto. Por mais que sejam chatos esses comportamentos, a pessoa com pensamentos obsessivos ainda  prefere mantê-los a ter que remoer o medo de deixar de repetir e sentir-se responsável por possíveis consequências que venham a ocorrer, pois normalmente estas pessoas possuem um enorme senso de responsabilidade, com cuidados exagerados, culpam-se pelos próprios pensamentos, e assim acreditam na necessidade de terem o controle de tudo para tentar se afastar dos pensamentos que acreditam serem responsáveis.

Quem não assistiu o filme melhor impossível? Nele está bem retratado a mente de um obsessivo compulsivo, cheios de manias exageradas, o filme com Jack Nicholson mostra um personagem cheio destas manias, como limpeza, organização, repetições e rituais comportamentais, vale a pena assistir.
Os pensamentos obsessivos e os rituais compulsivos e de manias quase sempre vão enquadrar nos mesmos tipos comportamentais,  e podem apresentar de forma diferente de pessoa para pessoa, muito embora alguns possuem mais de um tipo comportamental, e podem se dividir de acordo com os rituais e compulsões. Estes comportamentos se desenvolvem de forma leve, moderada ou acentuada. Os tipos mais comuns são: mania de limpeza ou desinfecção, checagem ou verificação, contagem, organização ou simetria, colecionamento ou acumuladores, repetição e os de atos mentais.
Abaixo uma breve descrição de cada um:
  • Mania/compulsão de limpeza: Lavar as mãos em excesso a ponto de irritar ou ferir a pele, tomar banhos intermináveis executados de forma pré determinada, uso de excesso de produto de limpeza, limpam exaustivamente a casa, etc... muitas vezes as pessoas com estas obsessões evitam até tocar em objetos por acreditarem estar contaminados, e mesmo lavando os objetos ainda ficam em dúvida se ficaram totalmente limpos e estes pensamentos os perseguem;
  • Checagem ou verificação: é aquela pessoa que precisa checar várias vezes a mesma coisa, se as portas e janelas estão fechadas, se desligou o gás, apagou as luzes, etc..., estes pensamentos são assustadores para estas pessoas, por isso necessitam verificar várias vezes simultaneamente, como se não acreditasse de fato no que acabou de ver, precisam retificar até se convencerem mentalmente;
  • Contagem: São pessoas que contam até 10, repetidas vezes em ordem crescente ou decrescente até que um pensamento seja afastado. Geralmente são supersticiosas, acreditam que precisam lavar as mãos um determinado numero de vezes para ficar totalmente limpas, que podem pegar somente o terceiro ônibus que passar, por exemplo, necessitam dar 5 passos depois parar e continuar, contam as lajotas que pisam no chão, e assim por diante. Sua fantasia pode ir longe de acordo com seus pensamentos;
  • Organização e Simetria: São rituais desgastantes de excesso de organização, estas pessoas se obrigam a guardar e organizar as coisas sempre do mesma forma e posição e  normalmente precisam organizar de acordo com alguma proporção, por exemplo tamanho, cor, posicionamento de móveis. Estas pessoas sofrem e perdem muito tempo com sua organização e se incomodam muito com quem não é organizado, gerando muitos conflitos sociais pelo exagero;
  • Colecionamento/acumuladores: São aqueles que gostam de acumular coisas desnecessárias, tem dificuldades em se desfazer de objetos e coisas que lhe pertencem, e muitas vezes pegam para si o que outros não querem, achando que podem lhe ser útil, também acumulam caixas, contas pagas, latas, vidros, sempre acham que tais objetos serão necessários em algum momento da vida. Tratam-se de pessoas desorganizadas e costumam viver no meio da bagunça;
  • Repetição: Tratam-se de repetições de ações menos específicas, como acender e apagar a luz, entrar e sair pela mesma porta, escrevem e reescrevem a mesma frase várias fezes, ir e voltar a um determinado comodo da casa ou lugar repetidas vezes, andam pulando as riscas do chão, etc..., sempre repetem as mesmas ações, exatamente iguais.
  • Atos Mentais: São atos voluntários para tentar neutralizar os pensamentos que geram intensa ansiedade, como rezar por horas a fio, pensar em coisas que desviem pensamentos ruins, pensar em palavras, números ou símbolos de proteção e neutralização vindo de atos supersticiosos exagerados, como usar uma determinada cor de roupa ou não usar determinada cor, não passar por lugares que acredita darem "azar", usar uma determinada roupa para dar sorte e assim por diante.
COMO O TOC SURGE E COMO TRATAR?
Em geral os sintomas surgem no final da adolescência e inicio da idade adulta, por volta dos 20 anos de idade, e é normal que estejam relacionados a problemas com a depressão ou após um período de estresse importante. Raros são os casos de crianças com TOC, mas existem também, e geralmente os familiares deixam passar quase que despercebidos. As vezes as crianças têm vergonha de demonstrar suas manias, e em outras vezes podem não ter consciência que seus pensamentos obsessivos são irreais e exagerados, e neste caso além de sentir vergonha de falar de seus sentimentos podem ter maior resistência em abrir mão dos seus rituais, por isso os pai devem ficar atentos.
Como as crianças ainda revelam um penamento concreto em que a realidade e a fantasia se misturam, a frequência de casos em que elas acreditam em seus pensamentos obsessivos é maior que nos adultos.
Todas as alterações de comportamento do TOC trazem prejuízos sociais, profissionais e pessoais, e por este motivo estas pessoas devem ser tratadas independentes da extensão ou da intensidade destas limitações. Encontramos sintomas de desconforto mesmo nos casos mais leves, sendo assim a busca por um bem estar deve ser prioritária. 
Muitas vezes surgem sintomas psicossomáticos, muito comuns em adolescentes vitimas de automutilação e outras reações diversas por conta do TOC, Por isso a importância do tratamento psiquiátrico e psicológico.
O médico psiquiatra é quem irá prescrever a medicação mais adequada de acordo com os sintomas e intensidade, além disso, os sintomas comportamentais precisam ser trabalhados com psicoterapias após o inicio do tratamento com a medicação, a fim de se obter boa absorção dos conteúdos  a serem trabalhados, que geralmente se obtém grande sucesso com estímulos cognitivos e comportamentais. 
É normal que as pessoas que sofrem de TOC tenham total consciência do seu problema, por este motivo muitos escondem e disfarçam em público, quando o problema é mais complexo pode parecer diminuído, e nos casos mas leves acabam passando despercebidos.
A grande maioria dos pacientes com TOC, são tratados com uma substancia chamada de Serotonina (um dos elementos químicos produzidos pelo cérebro que faz com que as mensagem sejam transmitidas pelas células nervosas).
Outros estudos neuroquímicos sugerem que algumas substâncias produzidas pelo cérebro para transmitir impulsos nervosos (neurotransmissores), são importantes no surgimento do TOC, acredita-se que  serotonina seja de fato um elemento chave nesse processo, uma vez que os medicamentos antidepressivos utilizados com indiscutível eficácia no tratamento das obsessões e compulsões, agem preferencialmente sobre o metabolismo desse neurotransmissor, aumentando de maneira significativa sua disponibilidade no cérebro, mas outras substâncias também ajudam neste tratamento, como  dopamina, podendo o tratamento com serotonina ser associado, quando ha evidencias de pacientes que apresentam tiques, pois estes respondem melhor com medicamentos que combinem antidepressivos que aumentem a serotonina e neurolépticos, substâncias que bloqueiam a transmissão da dopamina, regulando assim os tiques tanto vocais como motores. Algumas pessoas também utilizam de medicamentos homeopáticos e florais, mas ainda há discussões sobre os resultados isolados, somente com estes medicamentos.
Se você sente que possui alguns destes sintomas, procure ajuda, não permaneça com este sofrimento.