VAMOS FALAR DOS BRASILEIROS QUE FIZERAM DIFERENÇA NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL
E porque não começarmos por esta mulher, que viveu além do seu tempo.
Nise da Silveira, nascida em Maceió-Alagoas em 15/02/1905, falecida no Rio de Janeiro em 30/10/1999, estudou medicina na Faculdade de Medicina da Bahia, ingressando no curso aos 21 anos, onde foi a única mulher entre 157 homens a se formar em medicina em sua turma, e está entre as primeiras mulheres no Brasil e formar em medicina.
Seu trabalho ganhou destaque após discordar da forma como os pacientes psiquiátricos eram tratados, pelos médicos e enfermeiros na época, quanto ao confinamento e a aplicação de eletrochoque nos pacientes psiquiátricos. Ela entendia que tais procedimentos eram demasiadamente agressivos, e propunha um tratamento mais humanizado.
Por essa sua discordância, foi punida e transferida para a área de Terapia Ocupacional, que na época não tinha o mesmo conceito atual, era menosprezada pelos médicos, os internos faziam trabalhos como limpeza e manutenção, e isso fez com que ela pensasse em mudar os conceitos de tratamento. Pelo seu antigo interesse pelas artes, introduziu um ateliês de pintura e modelagem com intenção de possibilitar aos doentes reatar os vínculos com a realidade através da expressão simbólica e da criatividade, e assim em 1946, fundou naquela instituição a "SEÇÃO DE TERAPÊUTICA OCUPACIONAL", revolucionando a psiquiatria, até então praticada no Brasil.
Nise casou-se com um sanitarista da sua turma e decidiram por não terem filhos para se dedicarem à medicina. Se mudaram para o Rio de Janeiro após a morte de seu pai, por entenderem que lá teriam mais oportunidades, por lá ser a capital Federal.
Seu marido Mario Magalhães da Silveira, publicava artigos relacionado as relações da pobreza e desigualdade social com a promoção da saúde, e a prevenção de doenças no Brasil.
Nos anos 30, Nise ingressa no Partido Comunista Brasileiro, e foi uma das poucas mulheres a assinar o "Manifestos dos trabalhadores intelectuais ao povo brasileiro. Foi denunciada por uma enfermeira e foi presa no presidio Frei Caneca por 18 meses, onde conheceu Graciliano Ramos, que também estava preso lá nesta época, e se tornou uma das personagens do livro Memórias de um Carcere.
Em 1952, funda o Museu de Imagens do Incosnciente, um centro de estudos e pesquisa e em 1956 a Casa das Palmeiras, primeira clinica brasileira destinada ao tratamento psiquiátrico, em regime de externato, voltada para a reabilitação de antigos pacientes de instituições psiquiátricas, para que estes pudessem se reintegrar à sociedade.
Introduziu a psicologia Junguiana no Brasil, pois teve a oportunidade de trocar mensagens com Carl Gustav Jung, por seu interesse no estudo sobre mandalas, tema recorrente nas pinturas de seus pacientes, posteriormente, estudou por 2 períodos no Instituto Carl Gustav Jung (1957-1958 e 1961-1962). Nesta fase, Jung a estimulou a apresentar uma mostra dos trabalhos de seus pacientes nomeando de "A Arte e a Esquizofrenia", ocupando salas no II Congresso Internacional de Psiquiatria realizado em 1957, em Zurich.
Jung a orientou a estudar mitologia como uma chave para a compreensão dos trabalhos criados pelos internos.
Ao retornar ao Brasil após seu primeiro período de estudos no Instituto Carl Gustav Jung, formou, em sua própria residência, o Grupo de estudos Carl Jung, que presidiu até 1968. Entre outras obras, escreveu o livro, "Jung: vida e obra", publicado pela primeira edição em 1968.
Carlos Pertuis
Nise usou a arte para tratar os problemas graves de saúde mental, ela percebeu que as artes plásticas eram o canal de comunicação de pacientes esquizofrênicos graves, que até então não se comunicavam verbalmente. As obras produzidas por eles davam voz aos conflitos internos que viviam.
Entre outros artistas-pacientes que criaram obras na coleção dessa instituição, podem ser citados Adelina Gomes, Carlos Perutui, Emygdio de Barros e Octavio Inácio.
Este valioso acervo alimentou a escrita de seu livro "Imagens do Inconsciente", além disso, participaram de exposições significativas como a "Mostra Brasil 500 anos"
Entre 1983 e 1985, o cineasta Leon Hiszman realizou o filme Imagens do Inconsciente, trilogia mostrando as obras realizadas pelos internos a partir de um roteiro criado por Nise.
Animais no auxilio do tratamento Psiquiátrico
O auxilio dos animais aos pacientes, também foi introduzido por Nise, através de pesquisas das relações emocionais entre pacientes e animais que costumava chamar de co-terapeutas. Percebeu essa possibilidade de tratamento observando um paciente a quem delegara os cuidados de uma cadela abandonada no hospital, tendo responsabilidade de tratar o animal, como um ponto de referencia afetiva e estável em sua vida, expondo parte deste processo em seu livro "Gatos, A emoção de Lidar", publicado em 1998.
Nise obteve reconhecimento internacional pelo seu trabalho:
Membro fundadora da Sociedade Internacional de Expressão Psicopatológica ("Societé Internationale de Psychopathologie de Expression¨), sediada em Paris;
Sua pesquisa em terapia ocupacional e o entendimento do processo psiquiátrico por meio das imagens do inconsciente deram origem a diversas exibições, filmes, documentários, audiovisuais, cursos, simpósios, publicações e conferências;
Em reconhecimento a seu trabalho, Nise foi agraciada com diversas condecorações, títulos em diferentes áreas do conhecimento.
O antigo "Centro Psiquiátrico Nacional" do Rio de Janeiro, recebeu em sua homenagem, o nome de Instituto Municipal Nise da Silveira
"Em 2015, foi incluída na lista das Grandes mulheres que marcaram a história do Rio"
Vejam trailer do Filme Nise - O Coração da Loucura - Trailer Oficial
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Nise_da_Silveira
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